quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mutilação Feminina

O clitóris, ''descoberto'' e catalogado pela primeira vez na Renascença pelo anatomista Mateo Realdo Colombo personagem do livro ''Clitóris'', do argentino Federico Andahazi, e ''redescoberto'' em 1976 pela sexóloga americana Shere Hite como órgão do prazer sexual feminino, ainda é um bicho-de-sete-cabeças a serem cortadas.

Em uma única semana, cerca de 600 meninas entre 8 e 15 anos de idade foram submetidas a um ritual coletivo de circuncisão em um campo de refugiados de Serra Leoa, país do noroeste da África.

Todas elas foram vítimas de clitoridectomia, a extirpação do clitóris, também chamada de circuncisão ou mutilação genital feminina, costume ainda em vigor em muitas sociedades africanas e islâmicas. A operação geralmente é feita sem anestesia, com uma lâmina, uma faca de cozinha ou uma tesoura.

Não muito longe de Serra Leoa, em Burkina Fasso, ou mesmo no extremo oposto da África, na Etiópia, mulheres e garotas experimentam, além da clitoridectomia, a infibulação extirpação dos lábios vaginais seguida de costura da ferida, feita de forma a deixar apenas uma pequena abertura, do diâmetro de um lápis, para a urina e o fluxo menstrual.



Por ocasião do casamento, cabe ao marido ''rasgar'' a mulher com uma lâmina para penetrá-la ou contratar alguém para fazê-lo. Em muitos países pratica-se também a reinfibulação, recostura da vagina após o parto.

A explicação para essas práticas bárbaras está ligada à repressão da mulher e a crenças religiosas. Segundo a estudiosa inglesa Geraldine Brooks, o costume se originou na África central na Idade da Pedra, seguindo para o norte, pelo Nilo, até o antigo Egito. Mas só quando os exércitos árabe-muçulmanos conquistaram o Egito no século VII, a prática teria se espalhado pela África de forma sistemática, paralela à disseminação do Islã.

Embora nenhum dos principais textos islâmicos fale diretamente sobre isso, os muçulmanos acreditam que cortar o clitóris é o único meio de controlar o que eles classificam como selvagem e excessivo apetite sexual feminino.
A lista de lugares onde a circuncisão feminina é tradicionalmente praticada inclui 26 países da África e de várias áreas do Oriente Médio e da Ásia. Mesmo em países mais desenvolvidos, como o Egito, 50% da população feminina é circuncisada. Segundo estimativas de 100 a 130 milhões de mulheres e garotas estavam, então, circuncisadas no mundo todo. Mesmo no Ocidente, a circuncisão era utilizada como processo terapêutico até os anos 50.

Médicos ingleses e americanos praticavam a clitoridectomia e a castração feminina (retirada dos ovários) para curar melancolia e ninfomania. Até o século XIX, acreditava-se que as mesmas práticas curavam histeria, masturbação, lesbianismo e epilepsia.
Hoje, países ocidentais como os Estados Unidos, a França e o Canadá têm combatido a mutilação genital feminina dentro das comunidades de imigrantes africanos em seus territórios.

As comunidades têm sido alertadas para o grave problema de saúde pública decorrente da mutilação genital. É grande o número de meninas e mulheres que morrem de infecção pelo uso de instrumentos não esterilizados ou pelo represamento do fluxo menstrual.
Estes mesmos países têm juntado aos processos de reeducação dos imigrantes que chegam a mandar vir da África um profissional para circuncisar suas filhas ou, então, a levá-las até seus países de origem para a operação. Em 1993, uma mulher de Gâmbia foi condenada a cinco anos de prisão na França por ter mandado circuncisar suas duas filhas.

Nos EUA, a mutilação genital feminina, conhecida pela sigla FGM, é severamente combatida pelo feminismo militante às vezes de maneira comovente, como na atuação da enfermeira Maserak Ramsey, ela mesma circuncisada aos sete aos de idade em seu país natal, a Etiópia, e que trabalha na Califórnia junto a comunidades africanas. Outras vezes, de maneira forçada, paternalista e artificial, como nos discursos da escritora militante Alice Walker, autora do romance ''Possessing the Secret of Joy'' e do documentário ''Warrior Marks'' sobre o assunto.
Autoria de Marilene Felinto publicado na Folha de S. Paulo em 20 de julho de 1997. Editado e adaptado para ser postado por Leopoldo Costa.

Fonte: http://stravaganzastravaganza.blogspot.com/

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